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Marco Sousa

Cozinhando com paixão!

 

"Não importa onde esteja, que culinária você faz, a regionalização é fundamental para preservar a história gastronômica de um lugar, uma cultura." 

 

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foto: Arquivo pessoal

 

Maranhense nascido na cidade de Barra do Corda, foi ainda na infência que Marco Sousa chegou em Aracaju para firmar residência. Formado em Administração de Empresas em 2001, foi nesta época quando passou a morar sozinho, que ele começou a se aventurar pela cozinha, não só para alimentar-se, mas também mantendo um vínculo vocacional com a  inesgotável alquimia dos alimentos. 

Cerca de quase uma década depois, lá pelos idos do ano de 2010, ele  ingressou em um curso universitário de gastronomia e paralelamente fez pós graduação em Gestão de Segurança de Alimentos, concluindo os dois ao mesmo tempo.

Não satisfeito em ficar só por aqui, no ano de 2012 arrumou a bagagem, carimbou o passaporte e se mandou para a Argentina onde especializou-se em Culinária Internacional, em uma das mais conceituadas escolas da America do Sul, a Mausi Sebess.
De volta ao Brasil, Marco decidiu ensinar o que já havia acumulado de conhecimento e experiências entre caçarolas, e tornou-se professor universitário.

Mas, como ele nunca foi de ficar parado descascando sombras, paralelamente começou a distribuir pílulas de aprendizado escrevendo para blogs e sites.

A partir daí, consciente do que realmente queria, tinha como foco profissional e gostava, criou o próprio buffet empresarial, batizado "Trio di Sapori", servindo as sua iguarias somente em eventos corporativos.

No ano de 2014 ele conquistou o seu maior feito, lançou o primeiro livro, "Casa de Farinha".

Munido da publicação que diante do conteúdo chamou a atenção de especialistas no assunto, foi convidado pela curadoria da Bienal Internacional do Livro de São Paulo e desta feita pôde distribuir pílulas de saboroso conhecimento em uma palestra para renomados profissionais da gastronomia brasileira.

"O livro foi um sucesso de vendas e hoje estou finalizando meu segundo livro, "Chef sem Temperos", confessa Marco.

Com a sua curiosidade inquietante, sempre que possível arruma a bag e viaja em busca de novos conhecimentos, participando de eventos por todas as regiões do Brasil, aonde sempre renova a agenda com novas e grandes amizades que faz com chefs nacionalmente conhecidos.

Aqui em Aracaju, pilotou por um curto espaço de tempo a cozinha do One Lounge. E para ilustrar o seu vasto currículo, no ano passado passou a ser embaixador no Brasil da fundação FOOD Revolution, do chef britânico Jamie Oliver.

No mês de abril do corrente ano, largou a carreira de professor universitário e passou a gerenciar a própria escola de culinária, a "Academia de Chefs", a qual com poucos meses de fundação e atividades, já vem se tornando uma referência na cidade não só para quem já tem prática na cozinha, como também para  iniciantes, que através de módulos práticos e específicos aprendem diversos tipos de culinárias.

Bom, o BACANUDO já fez a devida apresentação e agora você acompanha abaixo a interessante entrevista feita a este mais que exímio profissional de gastronomia em nosso Estado. 

 

 

BACANUDO - De onde veio a ideia de se tornar chef de cozinha?

MARCO SOUSA - Foi uma consequência ao longo de 16 anos trabalhando com gastronomia. Chegar ao posto de chef é fruto de muito trabalho e estudo, fatores que são primordiais nesta profissão.

 

BACANUDO - Como você define a sua cozinha?

MS - Sou um pouco nômade, um pouco conservador, um pouco pesquisador. A gastronomia moderna é mutante e pragmática. Então procuro estudar as cozinhas clássicas, as populares e estar conectado a tudo que surge relacionado à gastronomia.

 

BACANUDO - Qual a sua análise para esse boom da gourmetização que assola a gastronomia atualmente?

MS - Perigosa em todos os aspectos. A internet ajuda e atrapalha. A busca pelo sucesso e fama, pela notoriedade faz que com que qualquer coisa que estiver relacionada à gastronomia deixe de ser “gororoba” e se torna “gourmet”. Técnicas seculares de escolas gastronômicas estão sendo deixadas de lado ou mal executadas. Qualquer coisa é gourmet, qualquer um é chef.

 

BACANUDO - O que mais lhe agrada e fascina na culinária em geral?

MS - A alquimia da transformação do sabor. A fusão de temperos, temperaturas e técnicas que transformam ingredientes isolados em alimentos saborosos e fantásticos.

 

BACANUDO  - Considera importante a regionalização da gastronomia?

MS - Imprescindível. Não importa onde esteja, que culinária você faz, a regionalização é fundamental para preservar a história gastronômica de um lugar, uma cultura. Aqui no Brasil tem uma riqueza imensurável que falta ser explorada.

 

BACANUDO - Qual a harmonização perfeita?

MS - Costumo dizer que a harmonização perfeita vem de quatro fatores, o olfato, o visual, o paladar e o abstrato. O abstrato refere-se àquela sensação ao final de uma refeição perfeita em que todos os sentidos foram tocados pelo alimento e você não esquece daquele momento. Mas se falarmos de uma refeição, acredite: um pão francês quente com suco de maracujá é muito bom !

 

BACANUDO - Você gosta de tudo o que faz?

MS - A gastronomia para mim é uma arte, uma terapia. Então cada prato em branco é como uma tela e nela busco mostrar quem eu sou e o que eu sou. Tudo que faço eu gosto e me identifico.

 

BACANUDO - Qual prato você detesta?

MS - Não diria detesto mas evito, caruru.

 

BACANUDO - Fale um pouco sobre o seu novo empreendimento a "Academia de Chefs".

MS - A Academia de Chefs surgiu da ideia do meu sócio Jose Nery. Há muito tempo ele e outros amigos diziam que eu deveria ensinar gastronomia de uma forma menos complicada, como faço quando estou em casa, entre eles, de forma mais descontraída. Assim abrimos a escola, e o nosso conceito se baseia em um ensino menos formal, onde o aluno não é tratado como um acadêmico e sim como um amante da boa comida e que busca aprender a cozinhar sem mistérios mas se divertindo de forma rápida e direta. Acreditamos que nosso diferencial em relação ao que existe no mercado está no fato de que nossas aulas são 100% práticas, assim o aluno aprende melhor, e estamos percebendo isso em nossos alunos ao final dos cursos.

 

BACANUDO - Existe diferença entre preparar pratos e ensinar a prepará-los?

MS - Acho mais fácil preparar, alí sou eu apenas, meu conceito. Agora ensinar é mais desafiador. Você precisa estar preparado para passar seus conhecimentos e atender as expectativas de quem está ali querendo aprender. Você acaba se tornando uma referência então não pode falhar.

 

BACANUDO - Você acha que de uns tempos pra cá houve uma banalização no segmento gastronômico, ou toda essa divulgação tem ajudado a valorizar e fortalecer o setor?

MS - Sim houve uma banalização mas também houve uma profissionalização. Qualquer segmento tem bons e maus exemplos. Cabe àqueles que trabalham de forma séria lutar contra isso. O público precisa ser exigente cada vez mais porque assim os trabalhos realizados com qualidade aparecem. As redes sociais ajudam a mostrar o que de bom e ruim existe, cabe a quem consome julgar.

 

BACANUDO - Qual a técnica culinária que te surpreendeu?

MS - Sou um fã incondicional da cozinha indiana. Tenho uma enorme paixão pelas especiarias e como os indianos dominam esta técnica de combinar elementos e temperos, me fascina.

 

BACANUDO - Quais as tendências de mercado atualmente?

MS - Existe um crescimento enorme sobre produtos “sem gluten” e “sem lactose”. O mercado vê isso como uma oportunidade financeira. Isso é perigoso. Outro segmento que cresce é o de alimentação funcional, não voltada para atletas mas para quem trabalha, pessoas que não podem sair do local de trabalho. Digamos que a marmita deixou de ser uma alternativa de alimentação, mas um segmento que tem um publico crescente.

 

BACANUDO - Qual ingrediente nunca entra na sua cozinha e por quê?

MS - Produtos geneticamente modificados ou transgênicos. Na minha concepção, não são alimentos.

 

BACANUDO - Um chef recém-saído de uma faculdade, tem condição de já se tornar professor?

MS - Márcio, ninguém se forma chef, se transforma em chef. Leva tempo e este tempo o qualifica para ensinar. Porém sabemos que muitos são preparados, detêm conhecimento mas não têm a percepção do ensino. Além disso é um segmento com poucos profissionais, a maioria dos formandos buscam o mercado de trabalho de outra forma.

 

BACANUDO - Se você fosse premiar um chef quem seria e por quê?

MS - Uma pergunta difícil, são muitos que merecem. Mas não vou fugir da minha influência maior. O chef italiano Massimo Bottura. Reescreveu a culinária italiana, tirando-a do patamar de cozinha domestica para o posto de melhor restaurante do mundo com o "Osteria Francescana". Além disso dá exemplos com seus trabalhos sociais locais e mundiais. Posso citar o trabalho feito na Expo 2015, em Milão e o restaurante "RefettoRIO", aberto durante os Jogos Olimpicos Rio 2016.

 

BACANUDO - Você esteve recentemente no Mistura 2016, no Peru, conte o que melhor absorveu daquela famosa culinária.

MS - Foi uma experiência incrível. A gastronomia peruana impressiona pela quantidade de produtos agrícolas, base da alimentação local. A variedade é enorme e mais ainda as diversas formas de preparo. Batatas, pimentas, raízes e folhas. Mas acho que o maior tempero que faz a culinária peruana ser única, é a simpatia do povo. Em qualquer barraca do evento, qualquer cozinha em que eu apenas perguntava o que ali estava sendo apresentando, o tratamento era muito amável e com empolgação. Meu retorno é certo em 2017. 

 

BACANUDO - Pra finalizar, deixe um recado para os alunos de Gastronomia.

MS - Você pode ter os mais selecionados ingredientes mas o melhor tempero não pode faltar, a paixão pelo alimento. Tenham consigo sempre. Cozinhe com paixão!