(Foto: Arquivo pessoal)
Antonio Carlos Lins de Albuquerque Júnior, conhecido como Cao Albuquerque, nasceu em no bairro Rio Vermelho, em Salvador, mas foi criado nom Porto da Barra, também na Bahia. Exerce com maestria a função de figurinista da TV Globo, cujo trabalho ganhou amplidão, reconhecimento e relevo com o trabalho no seriado 'Armação Ilimitada'.
Cao Albuquerque se mudou para o Rio de Janeiro aos 19 anos, e começou a trabalhar como vendedor em lojas de roupas. Em seguida, conseguiu um emprego com Sônia Tomé, hoje figurinista da TV Globo, na época dona da confecção de roupas 'Diabólica'. Naquele tempo, Cao morava com a cantora Marina Lima, que estava em início de carreira. Amigo de Caetano Veloso desde quando morava na Bahia, foi convidado pelo cantor para fazer os figurinos de seu show 'Velô', apresentado em 1984. Acabou chamando a atenção do cantor Cazuza, que ia montar a banda Barão Vermelho, e de Ezequiel Neves, amigo e produtor da banda, que convidou o figurinista para criar o visual dos integrantes do grupo.
A atriz e escritora Patricya Travassos, que, na época, participava da equipe de roteiristas do seriado 'Armação Ilimitada' (1985), assistiu ao show do Barão Vermelho e comentou sobre o trabalho de Cao Albuquerque com o diretor Guel Arraes, que estava em busca de profissionais com linguagens novas para trabalhar no seriado. 'Armação Ilimitada' revolucionaria a estética televisiva, ousando nas experimentações de linguagem de câmera e edição, por exemplo. O figurinista gosta de dizer, aliás, que aprendeu a fazer figurinos para a TV no corpo da atriz Andréa Beltrão, intérprete da personagem Zelda Scott no seriado.
Dali em diante, Cao Albuquerque seguiu na equipe de Guel Arraes, trabalhando em programas que, de alguma forma, estavam sempre ligados ao humor – como o humorístico 'TV Pirata' (1988), cuja criação dos figurinos dividiu com o figurinista Billy Acioly. Após três anos, tempo de duração do programa, ele passou a vestir Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães no 'Programa Legal' (1991), acumulando a experiência com a criação dos figurinos de outro humorístico, o 'Casseta & Planeta, Urgente!' (1992).
No ano de 1993, ainda sob a direção de núcleo de Guel Arraes, Cao Albuquerque assinou os figurinos da série 'Brasil Especial', adaptação de textos da literatura brasileira como 'O Mambembe', 'Lisbela e o Prisioneiro', 'O Alienista' e 'O Coronel e o Lobisomem', entre outros. Foi ali que, segundo ele, aprendeu a fazer “época”. Depois, trabalhou em 'Brasil Legal' (1994), programa em que Regina Casé viajava pelo país mostrando lugares e pessoas anônimas interessantes. Cao Albuquerque foi figurinista da premiada série 'A Comédia da Vida Privada', que estreou em 1995 e ficou no ar por dois anos. Também fez os figurinos de Andréa Beltrão para o quadro 'Garota TPM', e do humorístico 'Zorra Total' (1999).
No final da década de 1990, Cao Albuquerque estreou nas minisséries. Assinou os figurinos de 'Dona Flor e Seus Dois Maridos' (1998), adaptada por Dias Gomes do original de Jorge Amado, e de 'O Auto da Compadecida' (1999), escrita por Guel Arraes, João Falcão e Adriana Falcão com base na obra homônima de Ariano Suassuna. Nessa produção, um dos destaques foi o visual da Nossa Senhora interpretada por Fernanda Montenegro. Em seguida, trabalhou ao lado da figurinista Emilia Duncan em 'A Muralha' (2000), adaptação de Maria Adelaide Amaral.
Cao fez, ainda, a microssérie 'A Invenção do Brasil' (2000), de Guel Arraes e Jorge Furtado, realizada em alta definição e posteriormente exibida no cinema com o título de 'Caramuru – A Invenção do Brasil' (2001), como já ocorrera com 'O Auto da Compadecida', que havia sido exibida nas salas de cinema, em 2000, com grande sucesso. Nessa microssérie, criou roupas feitas de folhas siliconadas para as índias interpretadas por Deborah Secco e Camila Pitanga, além de inspirar-se no cineasta italiano Federico Fellini para fazer os vestidos usados por Débora Bloch, com joelhos de fora e grandes caudas. Sua estreia em novelas foi em 'As Filhas da Mãe' (2001), de Silvio de Abreu, em parceria com a figurinista Helena Brício, e cujo visual da personagem transexual vivida por Claudia Raia teve grande repercussão. Foi montado um ateliê para fazer as roupas alternativas da estilista, que mesclavam materiais orgânicos como folhas e casca moída de pirarucu.
Um dos maiores sucessos de Cao Albuquerque é o humorístico 'A Grande Família' (2001), cujos figurinos ele assumiu a partir do segundo ano do programa. Na série, Cao veste os personagens fazendo uma mistura de estilos que remonta aos anos 1950, 1960, 1970 e 1980, com uso de muitas cores e estampas. O figurino do genro Agostinho, interpretado por Pedro Cardoso, por exemplo, é uma reedição do visual masculino da década de 1970, em que sobressaem camisas de colarinho duro, calças xadrez e sapatos no estilo cavalo-de-aço. Já a cabeleireira Marilda, vivida por Andréa Beltrão, fez sucesso com roupas e acessórios espalhafatosos. Em 2007, Cao trabalhou no humorístico Sob Nova Direção'. No ano seguinte, nas séries 'Ó Paí Ó' e 'Aline'. Em 2013, assinou o figurino da minissérie 'O Canto da Sereia', baseada no romance de Nelson Motta.
Um outro trabalho que destacou a criatividade de Cao foi 'Amorteamo', uma obra de Cláudio Paiva, Guel Arraes e Newton Moreno, com direção-geral de Flavia Lacerda, exibida em 2015. O figurino exótico abusou de peças customizadas como vestidos, calças e chapéus. Foram produzidas 560 peças no Projac. Envelhecimento de texturas em adereços e acessórios, como bijouterias modernas e exuberantes foram trabalhadas pela equipe do figurinista Cao Albuquerque para ganhar um aspecto de peças de época.
Para o cinema, ele fez os figurinos dos filmes 'Abril Despedaçado' (2001), de Walter Salles, 'Irma Vap – O Retorno' (2006), de Carla Camurati, 'A Grande Família' (2007), de Maurício Farias, e 'Romance' (2008).
Filho de Antonio Carlos Lins de Albuquerque, dono de cartório, e de Maria Magalhães Lins de Albuquerque, dona-de-casa, Cao fez cursos incompletos de Administração, Secretariado Executivo e Arquitetura, até desistir da universidade para estudar desenho.
Seus últimos trabalhos, que não podemos jamais de citar são: A 3ª temporada da série 'Os Outros' (Globoplay), onde também desenvolveu os figurinos das duas primeiras temporadas, o filme 'Grande Sertão', dirigido por Guel Arraes, além do recém estreado file 'Vítimas do Dia', dirigido por Bruno Safadi.
Entrevistado exclusivamente pelo Bacanudo.com, o talentosíssimo e super gentil Cao Albuquerque citou algumas das suas preferências do cotidiano, fora da extensa agenda de compromissos que enfrenta diariamente, já que podemos considerá-lo praticamente um workaholic. Conheça!
*Meu livro - "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez.
*Meu filme - "Grande Sertão", de Guel Arraes.
*Minha música - "Eu Sei Que Vou Te Amar", de Vinicius de Moraes.
*Minha cidade - O Rio de Janeiro.
*Minha cara - Todas as caras que vivem em felicidade.
*Minha bebida - Vinho, de preferência de uva Malbec.
*Minha comida - Cozido.
*Minha estação do ano - A primavera.
*Meu paraíso - Ilha de Boipeba, na Bahia.
*Minha fraqueza - Sexo.
*Meu pecado - Mora ao lado.
*Meu vício - Ser feliz.
*Meu medo - De morrer.
*Minha flor - Estrelícia (adoro), ou lírio branco.
*Meu esporte - Não fazer esporte.
*Meu lazer - Sair pra comer, restaurantes.
*Minha etiqueta (comportamento) - Ser leal.
*Meu cheiro - Natural, cheiro de gente, sem perfume.
*Meu ídolo - Caetano Veloso.
*Meu sonho - Poder viver um dia num lugar de muita paz.
*Minha inspiração - Qualquer pessoa interessante que estiver passando pela rua.
*Meu arrependimento - Não tenho nenhum arrependimento. Tudo que fiz tenho muita certeza que foi muito bom.
*Meu compositor - Caetano Veloso.
*Meu restaurante - O 'Guimas', na Gávea (RJ).
*Minha paisagem - De frente para o mar, na Av. Atlântica, onde moro.
*Minha indiferença - Gente mal educada.
*Meu exagero - Açúcar.
*Minha impaciência - Acordar e ter uma lista enorme, como todos os dias eu tenho para terminar.
*Meu lugar no mundo - Aqui e agora.
*Meu lugar na casa - No escritório.