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A construção da narrativa em torno dos eventos históricos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, está sempre sujeita às lentes dos protagonistas. No caso da Proclamação da República Brasileira de 1889, que marcou o fim do regime monárquico no país, não é diferente.
Por ser um importante marco na história brasileira, a Proclamação da República está sujeita a interpretações divergentes sobre os acontecimentos da época. Segundo o especialista em Gestão de Teorias Educacionais e coordenador pedagógico da Conquista Solução Educacional, Ivo Erthal, é necessário entender o contexto histórico do momento que levou ao acontecimento. Sendo assim, o historiador destaca alguns pontos importantes da proclamação que não se desenrolaram exatamente conforme as narrativas contam.
Golpe de Estado
Apesar da história contar que houve participação popular na Proclamação da República, há consenso entre os historiadores de que houve um golpe de estado orquestrado por lideranças econômicas, militares e religiosas. Os militares estavam insatisfeitos com o tratamento de D. Pedro II, principalmente por não terem sido enaltecidos após a Guerra do Paraguai, enquanto os religiosos se opunham à separação entre Igreja e Estado promovida pelo imperador, o que reduziu seu poder e influência. “A participação do povo é um mito, pois esse envolvimento é considerado apenas em casos de plebiscito, movimentos populares ou voto, e nenhum desses ocorreu”, aponta Erthal.
Abolição da escravatura
Além dos militares e religiosos, as elites agrárias brasileiras também participaram do golpe por conta da insatisfação com o imperador. Erthal explica que, para os ricos, esse descontentamento se originou principalmente porque eles sentiram-se prejudicados com o fim da escravidão no Brasil. “A história mostra o mito de que a Proclamação da República foi um movimento antiabolicionista, mas na realidade era exatamente o contrário”, revela.
Ato pacífico
Erthal conta que um dos maiores equívocos que envolvem a Proclamação da República é de que foi um acontecimento pacífico e bem aceito pela população brasileira. “Nos dez anos que seguiram à proclamação, houve registros de fortes movimentos de rebelião e conflitos armados, como a Revolta da Armada, a Revolução Federalista e a Guerra de Canudos”, lembra o historiador. Ele recomenda três leituras fundamentais para entender melhor esse período da história brasileira: “1899”, de Laurentino Gomes; “História da República: Síntese de 65 Anos da Vida Brasileira”, de José Maria Bello; e “Da Monarquia à República: Momentos Decisivos”, de Emília Viotti da Costa.
(Por: Central Press)