Luz, câmera, ação e muita ousadia! foto: Divulgação
"Me chamam de sonhador, de louco, sem noção, mas aprendi que quando você faz algo que ninguém faz, diferente, que foge do convencional, você incomoda e muito"
Com uma câmera na mão, muitas ideias na cabeça e uma determinação incrível de ver o seu projeto dar certo e prosperar, Fred Massa (43) se lançou em um mercado que para nós sergipanos não chega a ser competitivo, mas buscando uma visão amplificada percebemos o quanto é difícil: tornar-se cineasta.
Nascido Freder dos Santos Santana, o sergipano mix de fotógrafo, cinegrafista, roteirista, editor de vídeo e produtor, com passagem pela cadeira de Cinema na Universidade Federal de Sergipe - UFS -, não titubeou um só instante diante dos inúmeros obstáculos de produzir longas metragens em terra de "cajueiros e papagaios".
Seguiu o foco, driblou as opiniões e adversidades da profissão, e quando menos se esperava lançou o primeiro filme "Meu Novo Bobo Namorado", feito totalmente num tempo recorde de apenas 30 dias.
Se ele encontrou muitos leões diariamente no caminho para serem mortos? Isso a gente não precisa nem perguntar, não é mesmo? Se em áreas menos complicadas da nossa aldeia enfrentamos muitos desafios e problemas, imagine no campo cinematográfico onde até nos grandes centros do país muitos profissionais da área ainda não conseguiram alcançar os êxitos merecidos, sem que seja preciso citar as raríssimas exceções que conseguiram furar o cerco e tentar um lugar no espaço, e ainda suam bicas para ter os seus trabalhos reconhecidos, assistidos e rendendo lucros, imagine aqui entre nós.
Mas nenhuma dificuldade serviu de rocha no caminho de Fred Massa. Ele luta, busca, monta o arsenal, cai em campo e produz. Já são três filmes produzidos no currículo, que depois do primeiro ele vem emendando um atrás do outro sem reclamar da sorte. Todos oriundos de recursos próprios, pequenas ajudas e muito amor pelo que faz. "Tudo sai do meu bolso, através de muita luta e amizades que me ajudam nas locações. É por amor mesmo que faço cada filme", revela.
Ele disse ainda: "Eu quero chegar no topo mais alto que eu puder e sonho ainda dirigir grandes artistas".
O BACANUDO não tem dúvida nenhuma que ele irá alçar altos võos, porque força de vontade e determinação é o que não lhes falta.
BACANUDO- Como começou a sua relação com o cinema?
Fred Massa - Desde pequeno eu assistia filmes, não só por assistir como telespectador, mas querendo realmente saber como tudo era feito, gravado..., não tinha o entendimento, porém ficava fascinado com tudo o que eu via no sentido técnico, apesar que essa palavra ainda não fazia parte dos meus conhecimentos para pouca idade que eu tinha, 10 anos no máximo. Rambo, Karate kid, De Volta Para o Futuro, O Exterminador do Futuro e tantos outros, me deixavam pirado com as imagens.
BACANUDO- Quais as facilidades encontradas e as dificuldades enfrentadas para se fazer cinema em Sergipe?
FM - Facilidades em termos, porque ainda tem pessoas que dão uma certa força, não no lado financeiro, mas emprestando materiais, roupas, espaços, casas..., mas quando se fala em dinheiro, aí a coisa muda totalmente, porque infelizmente a nossa cultura ainda é muito fechada para isso. Sabemos muito bem que um filme não se faz somente com locações, tem muita coisa envolvida: alimentação, maquiagem, transporte..., e essas coisas não se ganha e nem se pede emprestado, tem que pagar, principalmente agora com a situação em que o nosso do país se encontra onde os desafios e dificuldades para se produzir um filme aumentaram em cerca de 80%.
BACANUDO- Qual a história por trás de cada roteiro?
FM - Todo roteirista coloca um pouco de si em cada história, e não é diferente comigo. Como tenho 43 anos, já passei por muitos problemas, já conheci pessoas e culturas diferente, já viajei muito, morei fora do país por dois anos, residi em Portugal, na Espanha, Itália, França, e isso me fez crescer muito. Essas residências me fizeram conhecer todo tipo de gente que você imaginar: drogados, prostitutas, evangélicos, metidos a alguma coisa, pessoas mal caráter e lógico pessoas de boa índole. Daí, naturalmente, fui construindo várias histórias diante de tudo que havia vivido e conhecido.
BACANUDO- Quanto tempo tem sido levado para a produção de cada filme, desde a produção inicial até o produto final?
FM - O primeiro filme, que foi "Meu Novo Bobo Namorado", eu fiz em 30 dias. O segundo, "Jessé no Cabaré", levei ao todo em torno de uns quatro meses, e o terceiro, "A Cura", polêmico a partir do tema, ao ponto de falarem que iam me processar por acharem que eu estava falando que ser homossexual era uma doença, o que não tem nada a ver com a história que enfoco, foi feito em um mês.
BACANUDO- Tratando-se de produções independentes, de onde vêm os recursos para cada filme lançado?
FM - Do meu próprio bolso, como falei antes. Eu consigo por meio de muita luta e amizades as locações, mas desenvolvo o papel de diretor, de produtor, e caio em campo para conseguir o que necessito. Faço tudo por amor mesmo. Cheguei a gastar uns R$ 4 na produção de "Jessé no Cabaré", o pode não parecer muito, mas pra quem não tem é uma grana considerada.
BACANUDO- Você tem recebido o apoio mínimo necessário para a divulgação dos seus longas?
FM - Sim. Graças a Deus as televisões locais me permitem divulgar, mas dependendo do tema eles cortam, como foi o caso do "A Cura" onde houve retaliação por parte de alguns que trabalhavam em uma determinada emissora. Um tremendo absurdo, mas tive que aceitar. Fazer o que?
BACANUDO- Já pensou em mudar-se de Sergipe para buscar espaço maior nos grandes centros do Brasil ou quem sabe em outro país?
FM - Eu penso nisso todos os dias, só que eu não posso ir com a cara e a coragem, tenho que criar uma base, mas esse é um grande passo que irei dar para que eu seja valorizado. Eu preciso aterrissar em um centro muito mais especializado na minha área, como São Paulo por exemplo, que é o centro de tudo. Preciso estar onde as coisas realmente acontecem.
BACANUDO- Como tem sido feita a veiculação dos filmes produzidos?
FM - Via redes sociais: WhatsApp, facebook..., através de e-mails, emissoras de Rádio, no boca a boca dos amigos e por aí vai. Se eu tivesse o apoio firme das TVs, através da veiculação de uma peça publicitária, um triller de pelo menos 15 segundos, tenho certeza que eu encheria várias salas de cinema.
BACANUDO- Você enfrenta ou já enfrentou algum tipo de preconceito por qualquer motivo?
FM - Já sim. Muitos dos colegas que se dizem cineastas me criticam, porque nos meus filmes falo de conteúdos polêmicos, ai sou taxado como homofóbico, racista, preconceituoso, fascista... Não sei nem se eles têm noção do que falam, só sei que sou muito criticado pelo que faço.
BACANUDO- Aonde Fred Massa pretende chegar?
FM - Me chamam de sonhador, de louco, sem noção, mas aprendi que quando você faz algo que ninguém faz, diferente, que foge do convencional, você incomoda e muito. Eu quero chegar no ponto mais alto que eu puder. O meu sonho é dirigir atores do nível de Wagner Moura, Rodrigo Santoro, Selton Melo, Julia Rabelo, Fabíula Nascimento, Irandhir Santos e outros tantos que me deixam tonto com as sua atuações. (risos).
BACANUDO- Quem na área de cinema inspira Fred Massa?
FM - Sem dúvida alguma, Pedro Almodóvar, Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Roman Polanski, Ingmar Bergman, José Padilha, Fernando Meirelles, Walter Salles, Bruno Barreto.
BACANUDO- Como é feita a seleção do elenco?
FM - Faço workshop para ensinar aos futuros atores as técnicas para atuação em Cinema e TV, em parceria com mais três amigos para me ajudarem nessas aulas, que são Nailson Bulcão, Eduardo Vieira e Sidney Rocha, todos com DRT e muita experiência na área cinematográfica.
BACANUDO- Você acredita que santo de casa também faça milagre?
FM - Com certeza. O maior problema do sergipano é não acreditar que pode alcançar e chegar a um ponto alto, em qualquer segmento. Cito como exemplo os atores Wagner Moura e Lázaro Ramos, que são daqui de pertinho, da nossa vizinha Salvador, que acreditaram nos seus potenciais, correram atrás e o resultado todos conhecem. Hoje, são artistas respeitados e mundialmente conhecidos. Por quê só ser bom aqui se você fizer Medicina , Engenharia ou Direito? Vivemos à margem da sociedade por um preconceito que se inicia justamente por muitos que fazem cultura no Estado e que são os primeiros a não acreditarem nos talentos locais e ainda criticar quem sonha em fazer.
BACANUDO- As pessoas interessadas em conhecer o seu trabalho o que devem fazer?
FM - Podem procurar através do facebook Fred Massa, no meu canal do youtube ou entrar em contato pelo email,sonnarfred@hotmail.com. Sejam bem vindos à família Fred Massa.