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JOUBERTO UCHÔA E LÚCIA MARQUES

Reitor e pesquisadora da Universidade Tiradentes lançam quinto livro em parceria
 

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Professor Uchôa (Foto: Aragão Studio); Lúcia Marques (Foto: Ascom/Unit)


 
Jouberto Uchôa de Mendonça decidiu comemorar os seus 80 anos fazendo o que mais ama na vida: contribuir para a valorização da educação em Sergipe. Na noite desta quinta-feira, 27, o reitor da Universidade Tiradentes e imortal da Academia Sergipana de Letras lança “Educadores de Sergipe à luz da República (1911-1971): (re) construindo trajetórias”, livro que será lançado pela Editora Universitária Tiradentes - Edunit. A obra é a sexta de autoria do magnífico, a quinta em parceria com a professora e pesquisadora Maria Lúcia Marques Cruz e Silva. O lançamento está marcado para as 19h30, no Teatro Tiradentes, Centro de Aracaju, mas o BACANUDO já bateu um papo com os autores. Confira:
 
BACANUDO – Por que a decisão de falar especificamente sobre esse período de funcionamento do modelo de educação “grupos escolares” em Sergipe?
JOUBERTO UCHÔA – Decidimos voltar ao passado para escolher professores que foram ícones em todos os municípios do Estado, num período de ouro da educação pública; docentes cuja presença exigia uma postura do aluno e que tinham suas decisões apoiadas pelas famílias. Ninguém ama o que não conhece, e se a juventude de hoje não tem acesso a esses valores, não vai valorizar, principalmente, os professores de hoje.
LÚCIA MARQUES – A pesquisa traz luz a um tempo considerado o apogeu da escola pública, de uma educação de qualidade para todos, independentemente de credo, raça ou religião, como defendiam os pioneiros da educação. Então, já que desde 2002 nós tínhamos o sonho de estudar professores e este recorte fantástico, instigante, voltamos o olhar para os professores dos grupos escolares.     
 
BACANUDO – Quais valores daquela época a obra busca recuperar?
JU – Valores como respeito, ordem, disciplina, dedicação. Tudo o que o professor representava para os alunos e para a comunidade. Eu cantava todos os hinos, desde o primário, sabia quem era o presidente, todos os ministros. Então a gente aprendia a viver na sociedade, mas tudo isso se perdeu.
LM – Esse livro poderia ter outro título: “Um convite à reflexão”. Neste momento em que os jovens estão desmotivados a seguir a carreira do magistério, é preciso resgatar valores morais, sociais, valores da família, de um tempo em que a escola educava e ensinava. Queremos mostrar que, apesar das dificuldades da vida de professor, da falta de estrutura, de recursos pedagógicos, se tinha uma educação que preparava bem o aluno. Isso porque os professores se doavam, ensinavam com a alma.
 
BACANUDO – O livro traz a história de 250 educadores. Como foi o trabalho de pesquisa?
JU – A partir de entrevistas em campo, em cada município sergipano, nós nos reuníamos para fazer o tratamento das informações coletadas. Para escolher os nomes, ouvimos educadores que lecionaram nos grupos escolares. Levantamos histórias de vida belíssimas, ao tempo que retratamos como funcionava a escola naquela época: o ambiente, a carteira, o quadro negro, a cópia de lição, o ditado e outras práticas da cultura escolar.
LM – Foi um desafio mergulhar em sete décadas de história das escolas do interior e da capital com acervos precários, sem bibliotecas, sem fontes; mas valeu a pena, pois conseguimos trazer uma amostragem que representa os educadores de todo o estado. Foi difícil construir a biografia de docentes que não tinham mais familiares ou não estavam mais vivos. A escrita da pesquisa durou quatro anos. 
 
BACANUDO – Qual era a relação, na época dos grupos escolares, entre o professor e a comunidade?
JU – O que era importante é que todos os pais faziam questão de se aproximar dos professores, ir até a escola para cumprimentá-los. Eram amigos e apoiadores das ações do educador. Todo docente era uma referência na cidade e estava sempre presente nos acontecimentos sociais.
LM – Havia um padrão de ensino em que o respeito imperava. Os pais diziam: “Em casa quem manda sou eu, na escola quem manda é a professora”. O educador era autoridade. O salário era muito menor em relação aos dias de hoje, mas o professor ensinava por vocação. Infelizmente, houve uma desvalorização da carreira do magistério, em especial na rede pública. O professor está sendo desrespeitado nas escolas.
 
BACANUDO – Diante de tudo isso, o que representa essa contribuição do livro para a memória da educação em Sergipe?
JU – Sergipe pouco faz pela valorização cultural do seu povo. A nossa memória arquitetônica foi destruída, a de seres humanos foi abandonada, poucas pessoas procuram saber nos dias de hoje a história nos nomes e valores do passado. Nós nos preocupamos com a preservação da história para que a juventude possa aproveitar os bons exemplos. Isso me enche a alma, poder me dedicar a tudo aquilo que possa retratar a memória da minha terra.
LM – Essa contribuição é imediata e a longo prazo. Servirá de fonte de pesquisa para quem estuda a educação, e eu acredito que, como a educação é o pilar para todas as formações, este livro será muito consultado, independentemente de área, mas em especial por aqueles que se debruçam sobre a historiografia educacional brasileira e sergipana.